Você venceu!Você chegou onde queria.
Se
lembra quando lhe disseram que a parada iria ser dura?
Muitos
nem tentaram. Muitos desistiram.
Muitos
desanimaram. Muitos falaram que não valia a pena.
Mas
você chegou onde queria.
Foi difícil, a pista estava
escorregadia. Quantas pedras no meio do caminho. Não eram todos
que aplaudiam. Alguns o olhavam com olhar de descrença,
diziam: - Coitado, é um sonhador.
Bolhas nos pés,
tênis apertado, o suor escorrendo pelo rosto, a ladeira íngreme,
e o dramático instante da dúvida:
- Paro ou
continuo? Uma decisão apenas sua.
Alguns estavam
caídos de cansaço e tédio Havia ainda um longo caminho pela
frente, e havia mais curvas do que retas. Alguém o animou -
Força, cara. Alguém o provocou
- E agora, cara? Alguém
tripudiou - Larga disso, cara.
Lembra?, você teve uma
enorme vontade de ir embora, de pegar suas coisas e dizer -
Tchau mesmo, quero que tudo se lixe, pra mim chega, já dei minha
cota, não tem mais jeito
E virar as costas à luta, à
incompreensão, ao sacrifício. Você teve vontade de ir para uma
ilha deserta onde vertessem leite e mel. Você olhou em frente. O
horizonte era uma sombra parda. Mas mesmo nessa hora tensa, pelo
sim pelo não, você não parou de correr. Talvez tenha diminuído o
tamanho do passo, porque ninguém é de pedra e o coração da gente
não pode ser medido com trena e compasso. Mas você não parou
porque sabia que no meio da multidão havia um recado mudo
aguardando a sua decisão. De sua decisão dependia a esperança de
gente que você nem conhecia. Então você tomou um fôlego, abriu o
peito, e com os pés no chão e os olhos lá na frente, mandou
ver.
Não importava tanto a colocação. Você lutava para
construir a sua parte no edifício do destino. E foi seguindo.
Sem perceber, arrastou com seu exemplo muitos que pensavam em
ficar no meio do caminho.
E você venceu. Você chegou
onde queria.
Ou você não venceu. Você não chegou onde
queria. As coisas não deram certo, você tropeçou, havia um
buraco, e outro buraco, e mais um buraco no chão feito de
armadilha. Você caiu, rolou, ah, houve gente que riu! Alguém
vaiou. Você não venceu. Você não chegou onde queria. Esfolou a
pele, abriu ferida, em vez de estrelas o cobriu um manto
cravejado de ridículo. O suor de seu rosto foi em vão. Em vão
seus músculos latejaram. Tudo em vão. Apanhe seu embornal de
mágoa, fique de mal com o mundo, abandone a pista. Você teve a
tentação.
Mas na multidão alguém esperava seu gesto de
conquista. Vamos, rapaz, esfregue a perna. Levante os ombros.
Não deixe que se apague o brilho dos seus olhos. Escute o bater
abafado do coração que insiste. Você está vivo, e não está vivo
à toa.
Você se levantou, se lembra? E a vaia lhe soou
como sinfonia. Recomeçou a corrida e quando, por fim, você
chegou - não em primeiro, como sonhava - mas chegou, o suor de
seu rosto parecia purpurina. Todos pensavam que você estivesse
satisfeito por haver chegado. Então você recolheu os retalhos de
suas forças e perguntou:
- Quando é que vamos disputar a
próxima corrida?
E foi neste momento que você venceu
e chegou onde queria.
Bom dia!!