Parábola da
felicidade
Após uma caminhada exaustiva pelo campo, os quatro amigos sentaram à
beira do caminho, embaixo da sombra da velha jaqueira. Era ela a única árvore
numa plantação de melancias. Era como se representasse, com dignidade a
espécie da árvores, num planeta onde alguns humanos não importam em
destruí-las em nome de um progresso duvidoso. Aquele era o local
preferido dos rapazes: jacas e melancias à vontade! Aquele dia era
especial: terminaram o curso e, provavelmente, seria a última vez que
caminhariam juntos. Embora nem admitissem, estavam conscientes do momento
e não perceberam o estranho brilho pairando sobre a copa da jaqueira. Não
fiquem tristes, nós nos veremos novamente....
Os amigos se entreolharam, espantados.
- Quem disse isso? - perguntou Eduardo, intrigado.
A voz era suave e nem parecida com nenhum deles.
- Ouvi - confirmou Pedro.
- Parece que veio lá de cima.
- Também escutei - disse Silas.
- Estranho. - comentou Antônio.
- Acho que pegamos sol demais pelo caminho.
- Ei! - exclamou Silas.
- Vocês estão notando uma luz estranha no alto da árvore?
Todos olharam para cima.
- É verdade. Vai ver é um disco voador!
Escutaram a voz novamente:
- Não é brincadeira! Eu posso atender um pedido de cada um de vocês
para que sejam felizes....
O susto foi grande. Uma árvore falante! Árvores não falam! Ou falam?
O conhecimento científico, impõe-se de maneira preponderante, de tal
forma que acabamos por crer apenas no que conseguimos pesar, medir,
reduzir, ao mesmo tempo que passamos a recusar tudo o que não se enquadre
nesses experimentos científicos.
- Vo....você é um tipo de árvore da felicidade? - perguntou Antônio.
- Não importa agora. Façam logo seus pedidos...
- Quero ser o homem mais rico do mundo - falou Antônio, superando os
instantes de incredulidade. - Ninguém consegue ser feliz sem dinheiro.
Silas pediu:
- Quero ser o homem mais amado do mundo, já que dinheiro não traz
felicidade.
Eduardo falou:
- Eu quero ser muito inteligente! E também jovem! Mocidade e inteligência
são, sem dúvida, as maiores felicidades.
Pedro pediu:
- Eu quero ser o homem mais famoso, com glória.
E todos riram.
Rapidamente a copa da jaqueira mudou de cor, soltou estranho zunido e, por
fim, subiu velozmente para o céu, deixando um rastro luminoso e os quatro
amigos boquiabertos.
O TEMPO PASSOU.....
Cada um seguiu seu caminho. Conforme pediram, seus desejos foram
realizados, embora não tivessem conseguido a tão ansiada felicidade.....
Antônio tornou-se o homem mais rico, graças a uma estranha sorte no
mundo dos negócios. Acumulara fortuna, mas a riqueza só lhe trouxe
problemas. Nunca tinha certeza se as pessoas que conviviam ao seu redor
estavam interessadas nele ou na sua fortuna, e por isso ia se tornando
taciturno, entediado, egoísta, isolando-se de todos. Só saía protegido
por guarda-costas, por medo de seqüestras.
Silas, por sua vez, era muito amado. Ainda que fizesse as piores maldades,
seus fanáticos admiradores sorriam para ele e lhe adoravam. Mas sentia-se
muito só. Não fazia diferença como tratava as pessoas: o resultado era
o mesmo. Tinha muitas mulheres, mas não amava nenhuma. O amor das
pessoas, sem que fizesse nada para conquistá-lo, tornou-o cruel e
perverso. Sentia prazer em maltratar as pessoas.
Eduardo permanecia jovem e inteligente. Era requisitado para palestras
pelo mundo todo. Governantes solicitavam sua sabedoria. Mas era infeliz e
solitário. Era alvo constante da inveja das pessoas. Coisas simples como
sair à rua ou ter amigos, era impossível agora. Vivia recluso, por
evitar os jornalistas e a milhares de convites para apresentações em público.
Antônio, Silas e Pedro viam a morte como libertadora de tanta
infelicidade e frustração. Para Eduardo, sempre jovem, pensava ele mesmo
dar fim a sua vida infeliz.
1990....1996.....2000....2003....2008......
Embora nunca mais tivessem se encontrado depois daquele dia, os quatro
mantinham o hábito de olhar o céu em noites estreladas, à procura de um
estranho brilho esverdeado.
Um dia, os quatro largaram tudo e fugiram. Viram-se novamente no local da
velha jaqueira.
- Fomos enganados. Mas o que podemos fazer agora?
E choraram, abraçados um ao outro.
Foram vocês que escolheram assim!
- A voz! Maldita! Maldita! Você nos enganou com sua conversa de
felicidade! - esbravejou Pedro.
- Vocês se enganaram. Todos sempre se enganam, quando acham que para ser
feliz é preciso alguma condição como dinheiro, inteligência, mocidade,
amor ou glória....
- Pelo amor de Deus! Filosofia barata não! Já estou farto de conselhos -
falou Antônio.
- Você prometeu felicidade, mas hoje, olhe para nós: somos os homens
mais infelizes do mundo!
- Vocês quiseram ser felizes. Fizeram seus pedidos e foram atendidos. Mas
esqueceram que a FELICIDADE NÃO PODE SER POSSUÍDA... TEM QUE SER
CONQUISTADA, ASSIM COMO O AMOR E A LIBERDADE. Cada pessoa sobre a Terra é
um ser único e imprevisível. Não existem fórmulas ou soluções que
sirvam para todos. Cada um precisa escolher o seu próprio caminho e o seu
jeito de caminhar! Vocês terão uma nova oportunidade...
- E como será essa nova oportunidade? - perguntou Pedro.
Mas não ouviram resposta. De novo o rastro prateado confundiu-se com o
brilho das estrelas.
- Já é noite! - surpreendeu-se Silas. - Mas como? Será que cochilamos
os quatro ao mesmo tempo?
Eram novamente jovens, ainda cansados pela caminhada, a última que faziam
como internos do colégio.
- Engraçado...aconteceu alguma coisa que não consigo me lembrar..... -
disse Antônio.
Os quatro levantaram-se e já iam pôr-se a caminho, quando Antônio
percebeu um pedaço de papel esverdeado pregado na jaqueira.
- Um bilhete! E é para nós! - verificou Silas.
Ninguém sabia quem tinha deixado aquilo.
AMIGOS QUERIDOS:
Ninguém precisa de riqueza, poder, fama, mocidade, inteligência, ou
qualquer outra coisa para ser feliz. A felicidade não pode ser comprada.
Ela é fruto de nosso compromisso com a paz, a justiça, a alegria, o
equilíbrio entre os seres do planeta, pois não é só a nossa felicidade
que importa, mas a dos que virão depois de nós e de nossos filhos. Ser
feliz é isso: aproveitar intensamente este presente cotidiano - A VIDA -
vivê-la plenamente e permitir que os outros também façam o mesmo.
Afinal, vivemos um dia de cada vez e quem deixa seu tempo presente
preocupado com o que ainda não aconteceu ou angustiado pelo que já
passou, perde a oportunidade de ser feliz AQUI E AGORA e, um dia, sem que
se saiba quando, será tarde para voltar atrás.
No caminho de volta, entre milhares de estrelas, havia agora um brilho
esverdeado, cuja luz parecia ter compartilhado daquele estranho
acontecimento...