Durante anos, nas suas sessões de meditação, o mestre observou a presença
de um jovem que nada falava e que parecia indiferente a tudo. Certa noite,
o jovem chegou um pouco mais cedo e ao encontrar o mestre sozinho
aproximou-se dele, interpelando-o:
- Mestre, há muitos anos venho ao seu centro de meditação e tenho
reparado no grande número de monges e freiras ao seu redor e no número
ainda maior de leigos, homens e mulheres.
Alguns deles alcançaram
plenamente a realização. Qualquer um pode comprovar isso. Outros
experimentaram certa mudança em sua vida. Também hoje são pessoas mais
livres.
Mas, senhor, também noto que há um grande número de pessoas,
entre as quais me incluo, que permanecem como eram. Não mudaram nada, ou
não mudaram para melhor. Por que há de ser assim, mestre? Por que o
senhor não usa do seu poder e do seu amor para libertar a todos?
O mestre sorriu e perguntou:
- De que cidade você vem?
- Eu venho de Rajagaha, mestre, a trezentos quilômetros daqui.
- Você ainda tem parentes ou negócios nessa cidade?
- Sim, mestre. Tenho parentes, amigos e ainda mantenho negócios em
Rajagaha, de modo que freqüentemente vou para lá.
- Então, meu jovem, você deve conhecer muito bem o caminho para essa
cidade.
- Sim, mestre, eu o conheço perfeitamente. Diria que até com os olhos
vendados eu poderia achar o caminho para Rajagaha, tantas vezes o
percorri.
- Deve, então, acontecer de algumas pessoas às vezes o procurarem,
pedindo-lhe que lhes explique o caminho, até lá. Quando isso ocorre, você
esconde alguma coisa delas ou explica-lhes claramente o caminho?
- O que haveria para esconder, mestre? Eu lhes explico claramente o
caminho, de maneira a não deixar nenhuma dúvida.
- E essas pessoas às quais você dá explicações tão claras... todas
elas chegam à cidade?
- Como poderiam, mestre? Somente aquelas que percorrem o caminho até o
fim é que chegam a Rajagaha.
- É exatamente isso que quero lhe explicar, meu jovem. As pessoas vêm a
mim sabendo que sou alguém que já percorreu o caminho e que o conhece
bem. Elas vêm a mim e perguntam:
"Qual é o caminho para a realização"?
E o que há para esconder? Eu lhes explico claramente o caminho. Se alguém
simplesmente abana a cabeça e diz "Ah, é um lindo caminho, mas não
me darei ao trabalho de percorrê-lo", como essa pessoa pode chegar
ao seu destino? Eu não carrego ninguém nos ombros. Ninguém pode
carregar ninguém nos ombros até o seu destino.
No máximo, é possível
dizer: "Este é o caminho e é assim que eu o percorro". Se você
também trabalhar, se também caminhar, certamente atingirá o seu
destino". Mas cada pessoa deve percorrer o caminho por si, sentir
cada um dos seus passos.
Quem deu um passo está um passo mais próximo.
Quem deu cem passos está cem passos mais próximo. Mas você tem que
percorrer
o caminho por si só.
Bom dia! Sendo assim...
vamos andar um pouco, mais alguns passos.
1809
Maktub