A benção do
trabalho
Devotado chefe de família que lutava bravamente para amealhar recursos
com que pudesse sustentar o barco doméstico, depois de desfrutar vasto
período de fartura, viu-se de um momento para outro pobre e abandonado
pelos melhores amigos, em virtude de enorme desastre financeiro.
O infeliz não soube suportar o golpe que o destino lhe desfechara e
morreu após alguns dias, vitima de inomináveis dissabores.
Entregue a si mesma, ao pé de seis filhos jovens, a valorosa viúva
enxugou o pranto e os reuniu ao redor de velha mesa que lhes restava, e
verificou que os moços amargurados pareciam absolutamente vencidos pela
tristeza e pelo desânimo.
Cercada de tantas lamentações e lágrimas, a senhora pensou,
pensou...e, em seguida dirigiu-se ao interior, de onde voltou sobraçando
pequena caixa de madeira, cuidadosamente cerrada, e lhes falou com
segurança:
- Meus filhos, não nos encontramos em tamanha penúria. Neste cofre
possuímos valioso tesouro que a previdência paterna lhes deixou.
É
fortuna capaz de fazer nossa felicidade, entretanto, os maiores depósitos
do mundo desaparecem quando não se alimentam nas fontes do trabalho
honesto e produtivo. Em verdade, o nosso ausente, quando desceu ao
repouso, nos empenhou em dívidas pesadas; todavia, não será justo o
esforço para resgatar com a preservação de nosso precioso legado?
Aproveitemos o tempo, melhorando a própria sorte e, se concordam comigo,
abriremos a caixa, mais tarde, a menos que as exigências do pão se façam
insuperáveis.
Belo sorriso de alegria e reconforto apareceu no semblante de todos.
No dia seguinte, os seis jovens atacaram corajosamente o serviço da
terra. Valendo-se de gleba alugada, plantaram o trigo, com imenso
desvelo, em valoroso trabalho de colaboração e, com tanto devotamento
se portaram que, findos seis anos, os débitos da família se achavam
liquidados, enorme propriedade rural fora adquirida e o nome do pai
coroado de novo, pela honra justa e pela fortuna próspera.
Quando já haviam superado de muito os bens perdidos pelo pai,
reuniram-se, certa noite, com a genitora, a fim de conhecerem o legado
intacto.
A velhinha trouxe o cofre, com inexcedível carinho, sorriu, satisfeita e
abriu-o sem grande esforço. Com assombro dos filhos, porém, dentro do
estojo encontraram somente velho pergaminho com as belas palavras de
Salomão:
- O filho sábio alegra o pai, mas o filho insensato é a tristeza de sua
mãe. Os tesouros da impiedade de nada aproveitam; contudo, a justiça
livra-nos da morte ao mal. O Senhor não deixa com fome a alma do justo;
entretanto recusa a fazenda dos ímpios. Aquele que trabalha com mão
enganosa, empobrece; todavia a mão dos diligentes enriquece para sempre.
Entreolharam-se os rapazes com júbilo indizível, e agradeceram a
inolvidável lição que o carinho materno lhes havia doado.
Neio Lúcio, pelas mãos de Chico Xavier.
1696