O perigo da intriga
Penava em seu covil um leão já muito idoso. Cada dia chegavam
notícias
que o seu estado se agravava e que ele andava morre
não morre. Todavia,
apegado à vida como era, lutava
contra a morte, por todos os meios.
Um dia,
fez divulgar uma ordem aos animais que viviam em seus domínios para que, um
a um, o visitassem e lhe dessem receitas de medicamentos que ajudassem a
restaurar suas forças e restabelecê-lo da enfermidade que, lentamente, ia
minando a sua vida.
Tão logo foram tomando conhecimento sobre a determinação
do seu rei, a bicharada foi procurando encontrar algo que minorasse o
sofrimento do leão. Diariamente, iam os animais visitá-lo.
- Onde anda a raposa? Por que se demora em vir? - indagou o rei ao lobo.
Este, intrigante e inimigo pessoal da raposa, não perdeu a chance:
- Eu sei. É que ela se considera superior e acha que Vossa Majestade já
está mesmo no fim da vida, portanto, pra que perder tempo com um caco quase
sem utilidade... Só mesmo uma desalmada como a raposa diria isso!
Ao ouvir tamanho insulto, o leão aborreceu-se ao extremo e furioso fez
intimar a raposa para que imediatamente comparecesse à sua presença. Sem
qualquer protesto, a raposa se apressou em atender a intimação do rei.
- Então é assim que me trata, vilíssimo animal? - disse-lhe o leão,
indignado. - Já se esqueceu que ainda sou o rei da floresta ?
- Perdão, Majestade. Alguma coisa está errada na informação que lhe
prestaram. Só não vim até agora, por andar peregrinando por outras
plagas, à procura de uma solução para a enfermidade que abate o ânimo do
meu soberano tão querido e respeitado por todos nós.
E quero que saiba que
a minha prolongada procura não foi em vão, visto que lhe trago a única
receita capaz de produzir as melhoras que o meu rei tanto deseja! - falou a
raposa, com todo o desembaraço e demonstração de real interesse.
- Diga-me logo o que é, para que tome as providências - ordenou o leão.
- É necessário combater o frio que entorpece o seu corpo, revestindo-o com
um capote de pele de lobo ainda quente, isto é, lobo escorchado na hora. E
como está presente o seu fiel súdito - o lobo - ele lhe emprestará a pele
com extremada alegria e galardoado pela oportunidade, garanto-lhe.
Eis aí o trágico fim de um intrigante...
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Maktub